Entregamos para todo o Brasil!

 

 

Traduzir literatura vinda de universos de jogos que já são estabelecidos e localizados é um exercício de pesquisa extra; quando o Multiverso em questão é apenas o seu favorito no mundo... o trabalho se torna uma aventura prazerosa.

 

O Magic está na minha vida desde 2012, no colegial, quando comecei a jogar. Na época, eu era inclinada a desenhar e já tinha vontade de ser parte do jogo com uma ilustração de card. Acabou que o desenho ficou como um hobby menor, abandonado no vestibular, eu me tornei tradutora, e a ideia de ser parte do jogo traduzindo começou a florescer em uma partida de Magic Duels.

 

Ao notar detalhes interessantes sobre como o jogo foi traduzido em relação a como falamos do jogo, eu criei meu projeto acadêmico de pesquisa, que gerou uma dissertação de mestrado, uma tese de doutorado e alguns artigos científicos. Esse trabalho acadêmico gerou tanto preparação para o serviço quanto me ajudou a ser notada pela empresa. Desde a defesa do mestrado, filmada singela no celular, eu passei a postar apresentações acadêmicas no Academia de Nefália e mandar para a Wizards inteirinha via Twitter com a intenção de chamar atenção, mesmo.

 

Esse foi meu segundo passo: com tato e delicadeza profissional, eu fui me apresentando para o povo responsável (ou não) pelo jogo e me mostrando disponível: sou tradutora, estudo o jogo bem de perto, tenho interesse em contribuir, meu contato é tal. Entreguei cartões de visita. O tato e delicadeza profissional que eu me refiro é uma regra básica: elogiar na esfera pública e criticar no privado, se possível com fundamentação teórica. Ninguém consegue nada no mundo corporativo só xingando um produto ou as pessoas envolvidas nele.

 

Após alguns anos, apareceu a oportunidade de traduzir estes contos com a Editora Planeta DeAgostini. Quando chegaram no escritório brasileiro da Wizards falando desse licenciamento, todos já tinham uma tradutora em mente, por insistência e autopromoção sem uma nesga de vergonha. A gente tem que ter vergonha de roubar e de matar – de fazer um bom trabalho? Nunca. O mesmo impulso me levou a zerar a vida no Grand Prix São Paulo 2018, quando trabalhei como intérprete simultânea para meus futuros chefes, Doug Beyer e Aaron Forsythe, chefes dos setores Criativo e Pesquisa e Desenvolvimento do Magic, respectivamente.

 

Então, os contos foram chegando e eu fui traduzindo. Eu já tinha experiência em tradução por quase uma década, e já tinha trabalhado um pouco com tradução literária em projetos universitários, voluntariamente. Meu processo é parecido com o que o Érico Assis (“quem, o Érico Assis?” #scottpilgrim) tradutor de quadrinhos e de literatura que também já foi colunista do Omelete e colega meu em algumas matérias do doutorado. Cada conto passou por mim três vezes. A primeira vez é uma tradução mais direta da maior parte do texto, deixando termos em dúvida ou que eu precisasse pesquisar marcados para não interromper o fluxo. A segunda vez tem todo o trabalho de pesquisa terminológica e esse restante da tradução, e a terceira vez é a revisão, onde eu leio em voz alta para garantir a fluidez de leitura além de fazer as correções de erros de digitação e concordância, etc.

 

Tradução literária tem um componente emocional que palestra nenhuma tinha me contado. É preciso desenvolver sensibilidade e empatia pelos nossos planinautas e lendas. Quando a gente lê por entretenimento, a proximidade é menor do que quando a gente lê para analisar, como fazemos nos canais de lore – que é uma proximidade menor do que traduzir, porque traduzindo você lê e relê e reconta e sente tudo muito mais intensamente do que quando leu por entretenimento. Eu já tinha lido todas as histórias que estão traduzidas na coleção e foi uma experiência muito mais intensa emocionalmente do que da primeira vez. Em Limites, aquele conto longuíssimo do Prólogo à Batalha por Zendikar (livro 2 da coleção) onde o Gideon iguala a ameaça dos Eldrazi em Zendikar à ameaça de uma gangue de goblins em Ravnica (sério, Gideão?), o Gideon passa vários dias sem dormir... e quem disse que eu conseguia dormir direito enquanto traduzia? O cansaço dele passava para mim. A paranoia de Sombras em Innistrad passou para mim. A indignação revolucionária de Kaladesh passou para mim, e assim por diante. Foi uma surpresa bem interessante essa conexão emocional.

 

Uma felicidade esperada foi sair correndo pela casa aos gritinhos porque eu traduzi coisas realmente incríveis que me emocionaram muito quando li, e vocês mal podem esperar para ver! Tanto felicidade quanto desafio foi traduzir os contos de Yahenni, primeiro personagem agênero do Magic, onde eu tentei deixar pronomes de gênero ambíguos de um jeito que ainda ficasse legível. São os textos que eu tenho mais orgulho de ter traduzido até agora, mas eu vou ter que fazer o Maro e dizer que tem muita coisa muito joia por vir, e eu não posso falar delas agora, mas quando elas forem saindo e eu puder falar, eu conto tudo!

 

Enfim, meus 61 bebês estão nascendo. Como mamãe orgulhosa, vou compartilhar várias fotos e vídeos e impressões de como eles são lindos e de como meu coração inteiro está lá dentro. Quero muito receber perguntas de vocês sobre como foi a tradução, e eu vou responder o que puder, quando puder. Também quero muito, muito mesmo, receber feedback – se vier com educação, tá tudo certo! Espero que venham nessa jornada da história do Magic comigo, nas bancas em breve.




A Meg é tradutora d’Os Contos de Magic The Gathering, publicados pela Editora Planeta DeAgostini. Podcaster com os Lorenautas e cosplayer, ela fez uma pesquisa de mestrado e doutorado sobre como o Magic foi localizado para o Brasil. Adora selado e draft. Gosta especialmente de minotauros e todo dia reza a Mogis para que um minotauro lendário nas cores Mardu apareça no Commander. @kozistranslator no Twitter e no Instagram.

CNPJ: 45.802.678/0001-26